Sunday, January 23, 2005

 

Mestre ê. ê.

"Se o poeta é alguém, ele é alguém para quem as coisas feitas importam muito pouco - alguém que é obcecado pelo Fazer. Como todas as obsessões, a obsessão de Fazer tem desvantagens; por exemplo, meu único interesse em fazer dinheiro seria fazê-lo. Mas felizmente eu preferiria fazer quase tudo o mais, inclusive locomotivas e rosas. É com rosas e locomotivas (para não mencionar acrobatas primavera eletricidade Coney Island o 4 de Julho os olhos dos camundongos e as Cataratas do Niágara) que meus "poemas" competem.

Eles também competem uns com os outros, com elefantes e com El Greco."


e. e. cummings, mais um que me arrebata e toca e comove e ensina
e talvez só se possa faze-lo assim, tudo junto


Saturday, January 22, 2005

 

Destino

Doa-me então você se é preciso
Doa-me as entranhas e os sentidos
Falte-me
Solidão minha de cada dia, no tempo de um silêncio
Oração muda de lembrança e descrença em si
Sou pouco hoje, quase nada
Me perdi do que me é mais caro
Minha vontade
E, por medo dos meus desejos
Abracei-me a primeira covardia que passava
Encolhi até, miúdo como sujeira de rua,
Poder ser chutado pra lá e pra cá
Pelos passantes


cahê

Tuesday, January 18, 2005

 

Mestre Bê

Pergunta-se a Borges: “Todos os que estamos aqui reunidos na universidade somos ou fomos alunos. Muitos somos ou fomos professores. Isto é certo ao menos no aspecto formal. Quais condições pensa você, Borges, como necessárias para que haja um mestre ou um discípulo?” Resposta de Borges: “Creio que só se pode ensinar o amor por algo. Eu não ensinei literatura inglesa, mas sim o amor por essa literatura. Ou melhor dizendo, já que a literatura é virtualmente infinita, o amor por certos livros, por certas páginas, talvez por certos versos. Ditei essa cátedra durante vinte anos na Faculdade de Filosofia e Letras. Dispunha de cinqüenta a quarenta alunos, e quatro meses. O menos importante eram as datas e os nomes próprios, mas consegui ensinar-lhes o amor por alguns autores e por alguns livros. E há autores, bem, dos quais eu sou indigno, então não falo deles. Ou seja, o que faz um professor é buscar amigos para os estudantes. O fato de que sejam contemporâneos, que estejam mortos há séculos, de que pertençam a esta ou àquela região, isso é o de menos. O importante é revelar beleza, e só se pode revelar a beleza que se sente.”

cahê, discípulo bastardo e imprestável, mas amoroso e grato...

Monday, January 17, 2005

 

Despropor é... e/ou (Des)proporção e/ou Breve vislumbre do quase e/ou Esquecimento em decreto

... Descobri que...
...se pisa cada vez mais baixo o chão
quanto mais baixo for o teto,
o erro é bem maior quanto mais fundo for o que é certo,
mais torto será o quadrado mais correto,
mais merda na cabeça, mais se fala pelo reto (abjeto!),
mais surreal quando o sonho é mais concreto
alçando vôos de águia por cabeça e asas, vôo de inseto,
por olhares de velhos escaravelhos e pés virgens de feto,
cresce o sujeito e sua imagem (objeto)
mal cabendo em espelho falho, sem resto,
pensamento sem sobras, incompleto...
... Esqueci que...
...


Lembrado por João alguma coisa que me esqueci agora... mas tá na ponta da língua...

Wednesday, January 12, 2005

 

Baile de braços e pernas e/ou Encontro de balões e/ou Sê mente incabível

Em minhas mãos descobriu que existia
mais dela onde ela própria não sabia,
não se conhecia tão grande,
não sabia que comigo
ocupava tanto espaço em si mesma
(próxima e distante)
do pé dos cílios ao pé do ouvido,
do céu de dentro e fora do umbigo

"Não sabia que ainda era eu.",
disse, já além dos horizontes (os seus),
então percebo, inflante: sou eu que cresço:
"Ela me coloca sorrisos que não me cabem na cara...
Qualquer dia viro pelo avesso..."


por João Victor, a ponto de estourar... pra alguém que também sabe voar...

 

CORREÇÕES

Decidiram corrigir tudo
que havia sido feito com erro
nas suas vidas.
Às vezes a correção
era em comum
como a dos orgasmos
já vividos
com outros companheiros
que
corrigiram
haviam sido
as ondas elétricas
que usaram
para comunicarem-se
entre si
que
no gozo
encontravam-se
e confirmavam-se
que
aquele ser estava
mesmo
em algum lugar e hora
esperando para o encontro.
Foi assim que conseguiram
transformar
até seus orgasmos anteriores
ao seu encontro
em antepassados
compartilhados.
Já que era nos orgasmos
que se enxergavam adiante
transferiram
para a sua história comum
qualquer outro prazer anterior
pois os do presente
e os do futuro
estavam assegurados
por essa atração
de seus meios e fins
como evidência de próprio destino
intocável como a hora
para a qual se é destinado
o ser a nascer.
Corrigiram a noite
do primeiro encontro
em que não ficaram perto
mas quase.
Na versão
agora admitida
como oficial
por atual opção
não apenas não se separaram
como imediatamente deram-se
o primeiro de todos os gozos
que se sucederiam intermináveis
a partir deste momento.
Desde então
um dizia que o outro
não era serial killer
de indivíduos a esmo
mas killer em série
do mesmo vivo ser
de tanto extenuarem-se
em prazer.
Dali de carro então
corrigiram
teriam ido
a um restaurante japonês
e lá dentro
de um dos ambientes reservados
e belamente decorados
outra vez deram-se orgasmos
completamente inspirados.
Foram para casa
e nunca mais se separaram
como ansiavam.
"As separações
que temos de viver
são provações"
diziam-se
com certeza
certamente
certa.
Assim corrigiram com exatidão
como deveria ter sido
seu primeiro cumprimento:
"Muito prazer
tire a roupa".
"Muito prazer
me come."
Denise Stoklos, em Amanhã será tarde e depois de amanhã nem existe
por João Victor e/ou João Victo e/ou João Vict e/ou João Vic e/ou João Vi e/ou João V e/ou João e/ou Joã e/ou Jo e/ou J e/ou e/ou e/ou não...


Tuesday, January 11, 2005

 

Para uma avenca partindo

De Caio Fernando Abreu

- Olha, antes do ônibus partir eu tenho uma porção de coisas pra te dizer, dessas coisas assim que não se dizem costumeiramente, sabe, dessas coisas tão difíceis de serem ditas que geralmente ficam caladas, porque nunca se sabe nem como serão ditas nem como serão ouvidas, compreende? Olha, falta muito pouco tempo, e se eu não te disser agora talvez não diga nunca mais, porque tanto eu como você sentiremos uma falta enorme dessas coisas, e se elas não chegarem a ser ditas nem eu nem você nos sentiremos satisfeitos com tudo que existimos, porque elas não foram existidas completamente, entende, porque as vivemos apenas naquela dimensão em que é permitido viver, não, não é isso que eu quero dizer, não existe uma dimensão permitida e uma outra proibida, indevassável, não me entenda mal, mas é que a gente tem tanto medo de penetrar naquilo que não sabe se terá coragem de viver, no mais fundo, eu quero dizer, é isso mesmo, você está acompanhando meu raciocínio? Falava do mais fundo, desse que existe em você, em mim, em todos esses outros com suas malas, suas bolsas, suas maçãs, não, não sei porque todo mundo compra maçãs antes de viajar, nunca tinha pensado nisso, por favor, não me interrompa, realmente não sei, existem coisas que a gente ainda não pensou, que a gente talvez nunca pense, eu, por exemplo, nunca pensei que houvesse alguma coisa a dizer além de tudo o que já foi dito, ou melhor pensei sim, não, pensar propriamente dito não, mas eu sabia, é verdade que eu sabia, que havia uma outra coisa atrás e além das nossas mãos dadas, dos nossos corpos nus, eu dentro de você, e mesmo atrás dos silêncios, aqueles silêncios saciados, quando a gente descobria alguma coisa pequena para observar, um fio de luz coado pela janela, um latido de cão no meio da noite, você sabe que eu não falaria dessas coisas se não tivesse a certeza de que você sentia o mesmo que eu a respeito dos fios de luz, dos latidos de cães, é, eu não falaria, uma vez eu disse que a nossa diferença fundamental é que você era capaz apenas de viver as superfícies, enquanto eu era capaz de ir ao mais fundo, você riu porque eu dizia que não era cantando desvairadamente até ficar rouca que você ia conseguir saber alguma coisa a respeito de si própria, mas sabe, você tinha razão em rir daquele jeito porque eu também não tinha me dado conta de que enquanto ia dizendo aquelas coisas eu também cantava desvairadamente até ficar rouco, o que eu quero dizer é que nós dois cantamos desvairadamente até agora sem nos darmos contas, é por isso que estou tão rouco assim, não, não é dessa coisa de garganta que falo, é de uma outra de dentro, entende? Por favor, não ria dessa maneira nem fique consultando o relógio o tempo todo, não é preciso, deixa eu te dizer antes que o ônibus parta que você cresceu em mim de um jeito completamente insuspeitado, assim como se você fosse apenas uma semente e eu plantasse você esperando ver uma plantinha qualquer, pequena, rala, uma avenca, talvez samambaia, no máximo uma roseira, é, não estou sendo agressivo não, esperava de você apenas coisas assim, avenca, samambaia, roseira, mas nunca, em nenhum momento essa coisa enorme que me obrigou a abrir todas as janelas, e depois as portas, e pouco a pouco derrubar todas as paredes e arrancar o telhado para que você crescesse livremente, você não cresceria se eu a mantivesse presa num pequeno vaso, eu compreendi a tempo que você precisava de muito espaço, claro, claro que eu compro uma revista pra você, eu sei, é bom ler durante a viagem, embora eu prefira ficar olhando pela janela e pensando coisas, estas mesmas coisas que estou tentando dizer a você sem conseguir, por favor, me ajuda, senão vai ser muito tarde, daqui a pouco não vai mais ser possível, e se eu não disser tudo não poderei nem dizer e nem fazer mais nada, é preciso que a gente tente de todas as maneiras, é o que estou fazendo, sim, esta é minha última tentativa, olha, é bom você pegar sua passagem, porque você sempre perde tudo nessa sua bolsa, não sei como é que você consegue, é bom você ficar com ela na mão para evitar qualquer atraso, sim, é bom evitar os atrasos, mas agora escuta: eu queria te dizer uma porção de coisas, de uma porção de noites, ou tardes, ou manhãs, não importa a cor, é, a cor, o tempo é só uma questão de cor não é? Por isso não importa, eu queria era te dizer dessas vezes em que eu te deixava e depois saía sozinho, pensando também nas coisas que eu não ia te dizer, porque existem coisas terríveis, eu me perguntava se você era capaz de ouvir, sim, era preciso estar disponível para ouvi-las, disponível em relação a quê? Não sei, não me interrompa agora que estou quase conseguindo, disponível só, não é uma palavra bonita? Sabe, eu me perguntava até que ponto você era aquilo que eu via em você ou apenas aquilo que eu queria ver em você, eu queria saber até que ponto você não era apenas uma projeção daquilo que eu sentia, e se era assim, até quando eu conseguiria ver em você todas essas coisas que me fascinavam e que no fundo, sempre no fundo, talvez nem fossem suas, mas minhas, e pensava que ama era só conseguir ver, e desamar era não mais conseguir ver, entende? Dolorido-colorido, estou repetindo devagar para que você possa compreender, melhor, claro que eu dou um cigarro pra você, não, ainda não, faltam uns cinco minutos, eu sei que não devia fumar tanto, é eu sei que os meus dentes estão ficando escuros, e essa tosse intolerável, você acha mesmo a minha tosse intolerável? Eu estava dizendo, o que é mesmo que eu estava dizendo? Ah: sabe, entre duas pessoas essas coisas sempre devem ser ditas, o fato de você achar minha tosse intolerável, por exemplo, eu poderia me aprofundar nisso e concluir que você não gosta de mim o suficiente, porque se você gostasse, gostaria também da minha tosse, dos meus dentes escuros, mas não aprofundando não concluo nada, fico só querendo te dizer de como eu te esperava quando a gente marcava qualquer coisa, de como eu olhava o relógio e andava de lá pra cá sem pensar definidamente e nada, mas não, não é isso, eu ainda queria chegar mais perto daquilo que está lá no centro e que um dia destes eu descobri existindo, porque eu nem supunha que existisse, acho que foi o fato de você partir que me fez descobrir tantas coisas, espera um pouco, eu vou te dizer de todas as coisas, é por isso que estou falando, fecha a revista, por favor, olha, se você não prestar muita atenção você não vai conseguir entender nada, sei, sei, eu também gosto muito do Peter Fonda, mas isso agora não tem nenhuma importância, é fundamental que você escute todas as palavras, todas, e não fique tentando descobrir sentidos ocultos por trás do que estou dizendo, sim, eu reconheço que muitas vezes falei por metáforas, e que é chatíssimo falar por metáforas, pelo menos para quem ouve, e depois, você sabe, eu sempre tive essa preocupação idiota de dizer apenas coisas que não ferissem, está bem, eu espero aqui do lado da janela, é melhor mesmo você subir, continuamos conversando enquanto o ônibus não sai, espera, as maçãs ficam comigo, é muito importante, vou dizer tudo numa só frase, você vai ......... ............ ............. ............ .......... ........... ............. ............ ............ ............ ......... ........... ............ ............ sim, eu sei, eu vou escrever, não eu não vou escrever, mas é bom você botar um casaco, está esfriando tanto, depois, na estrada, olha, antes do ônibus partir eu quero te dizer uma porção de coisas, será que vai dar tempo? Escuta, não fecha a janela, está tudo definido aqui dentro, é só uma coisa, espera um pouco mais, depois você arruma as malas e as botas, fica tranqüila, esse velho não vai incomodar você, olha, eu ainda não disse tudo, e a culpa é única e exclusivamente sua, por que você fica sempre me interrompendo e me fazendo suspeitar que você não passa mesmo duma simples avenca? Eu preciso de muito silêncio e de muita concentração para dizer todas as coisas que eu tinha pra te dizer, olha, antes de você ir embora eu quero te dizer quê.



Deixado na seda azul que envolve a maçã por Alê.

Monday, January 10, 2005

 

Vou-me embora pra passar... e/ou pró-logo pra longe

Sinto geladas as costelas
como que a esfarelar...
mas vou-me embora e faço delas
meu vazio matulão
bordado com as veias do coração
mal cabendo tanta baba de medo,
sobrando pelas bordas de cada segredo,
pingando em fiapos,
farrapos de certeza...

Meu prato sobre a mesa?
Pode quebrá-lo agora...
Sim, vou-me embora...


deixado pra trás por João Victor num bilhete sobre a mesa... por entre cacos...

 

ser e/ou não ser...

"Abro a porta, encaro o espelho. Ser alguém tem algo de grave. Não há outra opção, você precisa carregar sozinho esse fardo que é você mesmo para todo lugar. Aquele cara estranho, a pessoa de sempre, esse estranhamento constante, o rosto cansado. Envelhece no espelho. Essa máscara aprisionada numa casca que apodrece com os anos e com o uso - sem volta, enquanto você lê isso e eu bolino o grande rabo suado de Carmem.
"Qual é mesmo seu nome?"
Carmem acorda, prende seus cabelos pretos, ainda molhados de suor, e senta na beira da cama, com o jeito das crianças.
"Alberto." Digo sem pensar.
Carmem ri e pede comida. Vamos tomar café na padaria."


de João Paulo Cuenca, em Corpo Presente

postado por João Victor num papel de pão daqueles pardos onde vê-se escrito "Volte Sempre"

Saturday, January 08, 2005

 

O MENINO LOUCO

Eu dizia:"Tarde."
Mas não era assim.
A tarde era outra coisa
que já tinha ido embora.
(E a luz encolhia
os ombros como uma menina.)

"Tarde." Mas é inútil!
Esta é a falsa, esta tem
meia-lua de chumbo.
A outra não virá nunca.
(E a luz como a vêem todos
brincava de estátua com o menino louco.)

Aquela era pequena
e comia romãs .
Esta é grandona e verde, eu não posso
tomá-la nos braços nem vestí-la.
Não virá? Como era?
(E a luz que estava indo fez uma brincadeira.
Separou o menino louco de sua sombra.)


Federico García Lorca

postado por João Victor em homenagem ao pequeno menino turbulento, enquanto procura, já há algum tempo, sua sombra...

Thursday, January 06, 2005

 

Imagem

Como se ver um anjo, se saber um anjo e não ser nada do que se conhece por anjo? Como não ser nada do que vêem os outros mas invisivelmente ser aquilo? A procura por mil espelhos do passado, as mudanças enfileiradas em um álbum que passa os anos como à páginas de revistas em quadrinhos mudas. O que te toca é o vivido, não o visto. Nunca as imagens ou as palavras, mas sim o que por dentro pulsa e umidece e amorna, e irradia isso, de forma a tornar a lembrança, o teu lago ao luar. A gravidade de certos corpos move meus fluidos mais implacavelmente que a lua às marés, a luz prateada pode ser a de qualquer noite, contanto que na pele certa.
Onde eu me acho pode ser dentro de olhos alheios, em perfumes, minhas letras (que são lembranças, acho que todos eles são...). acho que tudo agora o é.


cahê

Monday, January 03, 2005

 

Encontrei mais uma amora pelas estantes...

2 poemas de uma amora chamada Maria Rezende


PAU MOLE

Adoro pau mole.
Assim mesmo.
Não bebo mate
não gosto de água de coco
não ando de bicicleta
não vi ET
e a-d-o-r-o pau mole.
Adoro pau mole
pelo que ele expõe de vulnerável e pelo que encerra de possibilidade.
Adoro pau mole
porque tocar um pressupõe a existência de uma liberdade
e de uma intimidade que eu prezo e quero, sempre.

Porque ele é ícone do pós-sexo,
que é intrínseca e automaticamente
(ainda que talvez um pouco antecipadamente)
sempre um pré-sexo também

Um pau mole é uma promessa de felicidade sussurrada baixinho ao pé do ouvido.

É dentro dele, em toda a sua moleza sacudinte de massa de modelar,
que mora o pau duro e firme com que meu homem me come.
-------------------------------------------------------------------
Uma mulher é uma mulher ainda que.
Palavras e formas não comportem o conteúdo.
Uma mulher pode ser um jeito.
Uma costela ou um defeito.
Uma mulher transborda pelos cantos.
Enche medidas.
Contorna o desafino.
Toca punheta e toca sino.
Uma mulher pode ser um grito
Uma barriga
Um precipício.

Uma mulher pode ser um abismo ou um porto.
E pode ser os dois.
E é.


2 poemas de uma amora postadas pelo tangerina João Victor (que neste momento está com ele mole e pra direita... kkkkk!)


 

Turbulência!!!

"-Turbulência! Eu disse: Turbulência!", ouvi alto da boca de um pequeno menino de pouco mais de 1 metro de altura que cruzava o corredor do ônibus degustando cada letra das palavras com uma certeza profética... Pouco depois, já de mãos dadas com a mãe, ele desce os degraus da escada oferecendo mais de seus trágicos presságios àqueles sábios que quisessem ouví-lo... Desta vez foi algo que me veio estalando a espinha até a nuca e eriçando todos os (agora poucos e pequenos) pelos do meu corpo até espetar agulhas em meus ouvidos:
"-Aquela bicicleta era o dragão da super-privada!"
Os que quiserem ignorar tais avisos que o façam... mas acho mesmo que, pelo que Ele disse, vai dar merda!

por João Victor, tentando distrair-se e esquecer-se das graves preocupações que tal evento causou...

 

Nos fala aquele que caiu...

"Anjo Caído - Não espero, não espero retornar, não espero. Já não há lembranças das coisas que se foram, e das coisas que hão de ser, também delas não haverá lembranças. Não espero, não espero retornar, não espero. Por que indagar minha culpa e examinar meu pecado, se tudo foi modelado à sua imagem e semelhança? Não espero, não espero retornar, não espero. Por que deveria o velho pássaro abrir as suas asas, asas que não são mais de voar? Não espero, não espero retornar ao amargo da alma, não espero. Ensina-me a ficar. Ensina-me a ficar...

[...]

Homem Atrás dos tubos do Órgão - "Nada nos abandona, nada nos deixa. A cela é escura e nosso destino é de incessante ferro. Mas, em algum canto da prisão, pode haver um descuido, uma fresta. Nada nos abandona, nada nos deixa."

Anjo Caído (segurando suas asas na mão) - Eu me verti de mim para ti. Agora me faço da tua matéria, terra. Também no barro me tornarei. (jogando as asas no chão) Fica com isso, não preciso mais. Já não sou pássaro, conquistei a queda. E, se houver um tempo de retorno, eu volto. Subirei empurrando a alma com meu sangue, pelas paredes do labirinto. Até transbordar de novo o coração.

[...]

Mulher com Balão - A euforia do vôo, a euforia do anjo perdido em mim. Por um instante, de perturbadora alegria, penso no movimento das coisas que caem. Eu saí nua do ventre da minha mãe, e meus pulmões, então, se abriram. No princípio bastava um sopro."


da peça "O Paraíso Perdido", do Teatro da Vertigem

postado por João Victor não se sabe porquê... também não esperando nada... somente acompanhando com o olhar distante um balão azul solto no céu vermelho...

 

Bizarre



Nome da revista de ilustrações editada por John Willie na década de 40.

Deixado para pegar no chão por Alê.


Sunday, January 02, 2005

 

A virtude selvagem ou A química dos corpos de encontro a sintonias efêmeras



Aquilo exatamente que você quer, no teu momento e o incrivel medo que dá por que não foi do jeito que você esperava. Eu. Estou falando de mim, na terceira pessoa. Covarde como sempre. Só me abro quando crio uma impossibilidade prévia de entrega. Pronto, o impossível me comforta pois nele não atuo. Só me solto quando não atuo. Ai sou eu sem máscaras ( com poucas, com poucas...), improvisando com o que sinto.

Não sou assim, não sou de nenhum desses jeitos. Não vou deixar me classificarem e refletirem a si sobre minhas costas. Veja você, veja o que fez com sua vida e por que olha pra minha. Não me venha com motivos fúteis e altruistas, não creio neles, não lhes dou crédito. A cada classificação vou mudar para muda-la. Com o movimento atrapalhar as tentativas de abate, de nome, de captura. Movimento aparente. Não dou segurança, não tenho.


cahê, sempre no começo...

 

Coloridos e transparências e saudades em preto e branco...

Uma questão pro silêncio pensar

Casausência
Pesada turbulência
Vazio denso...
... como se estivesses mais aqui
do que se o estivesse - penso -
com seu olhar através
que me faz de vidro
(transparente e de toque dolorido...)
e só enxerga espuma branca
ao longe, no breve mar entre concretos...
(... e meus poemas, o serão pros teus ouvidos?)

Posted by Hello


Horas de areia e/ou
Ampulheta, esse mundo de castelos e/ou
Poema-carinho para alguém que chegará (ou já chegou?)
e/ou Poema-porta pra quem tem a chave


Espero ora sobre pedras alvas
horas sob negras, o nascer do sol...
Aguardo também (em imaginação)
sua chegada
(se você vem girando a chave
e abrindo a porta
trancada
- voz em nota torta -
reclamando baixo
por terem sido dadas duas voltas
e não uma somente (se pudesse, dava três!)
despindo joelhos e ventre
deitando em largo sorriso (mesmo que cansada(a)mente))...
Agora teu silêncio: ora sob estas letras negras,
ora sobre alvas pausas (ENTRE)...
Agora são teus pés e ombros (versos) brancos
a colorir a espuma do mar
ora sobre a água,
ora sobra ao ar...
(espero o sol nascer...
... aguardo você voltar...)


por João Victor, colocando reticências por debaixo da porta de alguém...

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