Monday, November 29, 2004

 

sobre o anterior

Numa tarde emotiva, na qual me sentia tal qual guerrilheiro emboscado, que na selva não vê os amigos, apesar de os saber presentes, e, sem saber pra onde atirar ou correr,
teme por sua causa e pela própria saúde, esse poema quase me levou as lágrimas.
A selva era um shopping, devo admitir, mas escapei sem ferimentos ou compras.

Cahê, buscando rumo em palavras e estrelas

 

Barrismo

"Por viver muitos anos dentro do mato moda ave
O menino pegou um olhar de pássaro –
Contraiu visão fontana.
Por forma que ele enxergava as coisas por igual
como os pássaros enxergam.
As coisas todas inominadas.
Água não era ainda a palavra água.
Pedra não era ainda a palavra pedra.
E tal. As palavras eram livres de gramáticas
e podiam ficar em qualquer posição.
Por forma que o menino podia inaugurar.
Podia dar às pedras costumes de flor.
Podia dar ao canto formato de sol.
E, se quisesse caber em uma abelha,
era só abrir a palavra abelha e entrar dentro dela.
Como se fosse infância da língua.”

Manoel de Barros


Posto que então fundarei uma nova religião,
o Barrismo, como se não bastassem as tantas
que já nos aporrinham. Nela o nome confundira
profeta e apóstolo e todas as poesias de Manoel
serão sutras enquanto as de Carlos, upanishads.
será mais um método de redenção pela literatura
a princípio, ganhando vulto de coisa sagrada com
a distância, em tempo e espaço, das origens.
Nasce com a heresia de me buscar no que é belo.
Termina, daqui a anos, nas mãos de rebeldes, que
lutaram para derrubarem poderosos, que corromperam
o sentido original das palavras para ficarem no poder.
Eu estou com os que são diferentes. Cahê.

 

...

sossegue coração
ainda não é agora
a confusão prossegue
sonhos afora
calma calma
logo mais a gente goza
perto do osso
a carne é mais gostosa

Paulo Leminski

... deixado perto do osso por Alê.



Wednesday, November 24, 2004

 

minha complacência

Talvez haja muito plástico no que sinto, plástico sob meus dedos, tons pastéis no que vejo, insipidez, inocuidade, pouco, muito pouco. Um plástico que cerca devagar, despercebido e racional. Mas que quando notado grita NADA bem discretamente, num sussurro atroz, volumoso e monocórdico. Ele está lá, e eu aqui, mas o tempo passa, e ele continua, e eu definho. Ele ocupa um intervalo cada vez maior, e meu tempo, me é a cada dia, mais precioso. Seja metal, pedra, perfume ou organismo.
O plástico tem uma inércia inumana que transmite ao contato, ao silêncio que faz, à resistência ao desgaste. Fantasmagoricamente se mantendo brilhante, e limpo, e novo. E falsamente negando a perenidade. O que é um exemplo assustador.

cahê

Tuesday, November 23, 2004

 

Dançando com Ligia Clark e Escher...

"... Dar-se as mãos quando se dança é oferecer-se a si e ao outro o prazer da solidão quebrada por um momento na comunicação de dois corpos [...]"



"Se você não tiver uma face, as mãos dirão quem você é. Se você não tiver coração, as mãos falarão por você. Se você não tiver cabeça, elas farão uma por si, mas se você não as tiver, pode esconder atrás da sua face, do seu coração, do seu raciocínio, você é como uma ave sem asas e o seu andar tornar-se-á pesado e inexpressivo, pois elas estarão invisíveis, junto aos teus pés [...]" Ligia Clark

...novamente por João Victor e/ou rotciV oãoJ de um e de outro lado do espelho... de suas mãos...

 

Com exclusividade aos tangerinófilos

... um trecho do que amanhã estará no Cracatoa...

(...)
De pé e surpresa, a mulher observava a mim, um adolescente agachado em um beco da casa. Ainda zonzo, sem saber o que fazer, mostro-lhe a palma coberta pelo visgo branco. Então ela se curva e, com a língua estendida como uma oração, seus lábios se abrem em direção ao que, se eu não soubesse do que se tratava, diria ser uma fina guloseima.

 

Top ten de hoje (amanhã muda)

1 - Magnólia
2 - Coração Selvagem
3 - Apocalipse Now
4 - Cães de Aluguel
5 - Vanilla Sky
5 - Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças
6 - O Clube da Luta
6 - O Mundo de Andy
7 - A Liberdade é Azul
8 - Três Reis
9 - O Iluminado
10 - Era uma Vez no Oeste
11 - Capitão Sky e o Mundo de Amanhã

Sim, meu top ten tem 11 elementos. E Capitão Sky tem todos os clichês e anti-clichês a que todo filme de aventura dos anos 50 tem direito...

... escrito num saco de pipocas por Alê.

Monday, November 22, 2004

 

Como ela deve ser tratada

A menina sem sexo delicadamente beijava meu pescoço enquanto eu explicava a ela porque eu estava errado e ela certa. Ela ficou decepcionada em ganhar, pois não queria me ver perder. Por isso eu perdia pra ela, por que eu podia.
Pra ela, e só pra ela, eu podia ser fraco, ser pior, não fingir o tempo todo. Só pra ela eu podia me entregar do meu jeito e me perder no dela. E ela me pegava e me levava longe em mim. Me fazia estar tanto, que eu já nem estava. Me misturava consigo, me absorvia, e eu, que me achava muito em mim, me dissolvia um pouco em tudo, não sendo tão só eu. Vivendo um nosso. E descobrindo que, quando eu pensava que achava, eu não achava nada. De mim. Em mim. Mas nela, me via. E felizmente não era eu.
A menina sem sexo era organicamente perfeita, mas não dividia seu gostar. Via pessoas quando havia pessoas, não gêneros ou números ou graus quando as outras pessoas inventavam que era disso que tudo era feito. Acho que seu coração compreendia a razão e a tratava como uma criança. Como ela deve ser tratada.


Cahê, tentando aprender a viver com os mais jovens.


 

Sonhos sonhos são

Engraçado que eu tenha escrito este texto, baseado em sonhos há cerca de dois anos:

Terceiro sonho
Deitado de lado em minha cama, olho para um céu azul. Aves dançam. Não há brisa, a cortina repousa. Sem intenção alguma de mexer-me, deixo-me ficar. Um fino lençol cobre meu corpo. É uma tarde quente. É incrível e banal a um só tempo que as montanhas ao longe cheguem até mim através da vidraça. Eu não as entendo e elas, as montanhas, tampouco entendem a mim. Mas não há problema nisso.

Isto, sem dúvida, é uma paisagem.

E, de repente, não é mais. Num instante (é um sonho) o que estava lá fora está aqui dentro deste pequeno quarto, desta pequena cidade, deste pequeno mundo. Tudo é muito pequeno, mas o infinitamente pequeno comporta o infinitamente grande, sem dúvida. Porque o que penetrou pelas paredes brancas, não foi a paisagem. Aquilo que agora contemplo, como mergulhasse em um poço de águas cálidas, é seu olhar e, para além dele, seu corpo a se espreguiçar longamente, como quem reluta a levantar depois de um sonho bom que ainda perdura na vigília.

Em seguida, me aninho e volto a dormir profundamente, invadido por essa sensação quente.

Primeiro sonho
No meu sonho você entrava a flutuar pela janela e beijava minha boca, ardente, mas sem que eu acordasse. Era dia e uma brisa fazia com que a cortina oscilasse suavemente. O sol atravessava o tecido e dava ao ambiente um tom alaranjado. E, sim, sem que eu acordasse, você me beijava a boca. E era como antes. Como o primeiro beijo, antes da primeira palavra, antes mesmo do primeiro encontro. O primeiro, idealizado, em que os lábios se roçam, mas não dizem nada, como o calor antes da faísca, como a faísca antes da brasa, como a brasa antes da labareda.

E então seu corpo pousava ao lado do meu e seus olhos me observavam enquanto eu ressonava levemente durante a tarde quente, durante dias, durante anos, durante séculos. E no sonho (dentro do sonho), enquanto eu dormia, não sonhava com você, mas com a primeira bicicleta, uma pipa de oito lados e plástico transparente que desaparecia magicamente no céu feita por meu pai, com meu avô a caminhar a meu lado, com os olhos verdes da primeira namorada. No meu sonho eu tentava acordar para lhe dizer algo, algo importante, muito importante, ou simplesmente para tocar seus cabelos.Eu acordava e você não estava mais lá.

Segundo sonho
E, neste, ambos, de lugares diferentes, víamos a lua. Era torturante saber que víamos o mesmo astro sem, no entanto, nos vermos ou nos tocarmos. Ao mesmo tempo tornava-se confortável o sentimento de que ao menos um elemento da paisagem. A lua, cheia, pulsava no verão como as contrações de um corpo lascivo. Porém, minha janela estava vazia de você, um vazio da silhueta nua contra o céu escuro e estrelado. Neste momento, um dragão chinês passa pelo quarto através da vidraça em direção à porta da sala.

Pois era um sonho.


... colado, numa bravata e numa ágil manobra, junto com um outro papel escrito "chute-me" nas costas de um feroz dragão chinês por Alê...

 

Valentina, de Guido Crepax

.

... deixado sobre a mesa com os outros livros para matar a avó de desgosto por Alê.

Sunday, November 21, 2004

 

Quebre paradigmas II

... e ainda em crise induzida após um curso do Prof. Mallet...

.
Você tem o poder de desabituar-se?

por João Victor do lado de dentro e/ou de fora de uma caixa aberta...

Saturday, November 20, 2004

 

O que não necessariamente explica nada...

Seus ídolos queriam comer mil garotinhas, beber todas e ser estrelas. O meus escreviam músicas sobre sadomasoquismo e se casavam com transsexuais, ou se diziam mortos para escapar de impostos e de fotografos. Ou eram paranóicos apesar de absolutamente lúcidos. Faziam jejum para que as palavras não lhes escapassem, esculpiam em feedback de amplificadores e guitarras. Deixavam suas obras mais geniais nas paredes de um beco, ou no deserto, ou as davam a uma amante eventual. Mentiam, descaradamente e sem culpa. Só confiavam no que sua própria carne queria lhes dizer. Ou esconder.
Seus ídolos eram lideres do complô os meus eram contra, ou nem foram a reunião para conspirar por que não lembraram, por que não acordaram na hora, tinham algo melhor pra fazer, estavam tristes, acharam injusto, buscaram a verdade.
Nem ligavam pra si mesmos ou se achavam a coisa mais genial depois de Deus. Meus ídolos pediram para serem esquecidos, ter a obra queimada ou ergueram catedrais para si mesmos.

Eu tenho catedrais em mim para cada um deles
Mas as queimo periodicamente
Só pelo espetáculo
E para transforma-las em algo que pode ser levado pelo vento

Cahê, em dias mais de cinzas do que de chamas.

Friday, November 19, 2004

 

lembrete


gosto mais de: hoje é meu único dia. Posted by Hello

 

Quebre paradigmas

E depois de um curso com o Prof. Mallet...

.
Você tem o poder da escolha?

por João Victor e/ou rotciV oãoJ de um e de outro lado do espelho...

 

Manara e Klimt

Procurando uma ilustração de Manara, encontrei uma leitura dele para o quadro em que Gustav Klimt interpreta o mito de Danae, grega que teria recebido Zeus, em forma de uma chuva de ouro. Ao fundo, vê-se Klimt.

.

Eis o Klimt original:


Deixado escondido, entre a moldura e a parede, por Alê.

Thursday, November 18, 2004

 

Pra começar...

Três ciscos ou uma navalha a tirar fino da retina de Aretino
ou Um Copo de Luxúria


Palma a deformar seu rosto, a formar um olhar por gotas cada vez mais fosco, a descer pela garganta, e firme sugar em força tanta que lhe desenhe um relevo tosco, a língua já em seu bico,mamilo já entre os dentes, e os dedos frementes entre os lábios que rentes deslizam e somem dentro e voltam dentre, enquanto a outra mão se aventura na penugem do umbigo, deslizam e tocam um guizo, que ressoa então num gemido de mais grosso líquido misturando em quente saliva (calda de cólera), em suas coxas entre, entrando por vezes nas carnes daqueles, lábios já entre os meus, pomos maduros em bagos se abrindo,um canto da boca sorrindo, o outro quase gozando, os olhos ardentes virando, mais dentespescoçosombrospeitosventrescoxas em laço, em lasso, mais um gemido - da boca um traço, os dedos por trás, úmidos, e a outra mão a abrir-lhe a carne gostosa das nádegas, descobrindo-lhe sôfregamente a bela fragilidade do cu, sentindo virilhas mordendo seus lábios, aqueles dedos nus que gentis vão sumindo novamente, se despedindo e se afundando naquela beleza, a sentir cada milímetro, cada pelo pequeno e fino que lhe roça a pele até ser engolido por mais, mais gemidos (mais traços e mais desenhos rosáceos) e hálitos densos de perfumes dos mais assassinos, um deleite, mais cheiros cada vez mais tensos (dos mais venenosos leites) e líquidos em fusão, fervendo nos canos do corpo, vinho na bomba do coração,explodindoespargindoesparramandoenramandointrometendointrojetando, a penetrar cada poro aberto ao gozo, cada um deles uma teta, a ser chupada, afogada em suor, gosmas e visgos , a pesar um sobre o outro (apesar de um sob um), a fundir um sobre um (sabre), e tapas sonoros em carnes rosáceas (antes caladas), violentas violetas violáceas (em coágulos), as mucosas umedecidas, engomadas, e lambidas por rijo membro lambido por densa língua, antes, desaparecendo na boca míngua (figura minguante), como aquela lua-olho e sua nuvem-navalha cortante, já num outro ritmo, mão de gesto arfante, que arranha nuca e costas e puxa dominante os cabelos do couro, movendo os quadris oferecendo os gomos, e lhe vira e lhe abre de novo as coxas agora SE oferecendo, arqueando o peito, a língua em vida própria, as carnes se esquecendo, lembrando quase que somente das do outro (que já não o é), no breve infinito do encontro dos pés, mais laçosabraçoslassoslevesgritoscrassos, dentes de fome nunca escassos, e cada milímetro dizendo "Sei bem o que faço!" e engolindo o que não vê pela frente, se metendo, sementeando tudo o que se sente em cada minuto (não mais sessenta segundos) cegando contudo, não contendo, não contando, (co)metendo, cada vez mais fundo na contenda, abarcando o mundo, contido agora em pele, carne, sangue, fungos, cólera, gozo, poros e fendas...
-Que nosso corpo sempre me (te-nos) atenda...


João Victor


para as Amorass

Wednesday, November 17, 2004

 

O Livro sobre Nada

- Com pedaços de mim eu monto um ser atônito.
- Tudo que não invento é falso.
- Há muitas maneiras sérias de não dizer nada, mas só a poesia é verdadeira.
- Não pode haver ausência de boca nas palavras: nenhuma fique desamparada do ser que a revelou.
- É mais fácil fazer da tolice um regalo do que da sensatez.
- Sempre que desejo contar alguma coisa, não faço nada; mas se não desejo contar nada, faço poesia.
- Melhor jeito que achei para me conhecer foi fazendo o contrário.
- A inércia é o meu ato principal.
- Há histórias tão verdadeiras que às vezes parece que são inventadas.
- O artista é um erro da natureza. Beethoven foi um erro perfeito.
- A terapia literária consiste em desarrumar a linguagem a ponto que ela expresse nossos mais fundos desejos.
- Quero a palavra que sirva na boca dos passarinhos.
- Por pudor sou impuro.
- Não preciso do fim para chegar.
- De tudo haveria de ficar para nós um sentimento longínquo de coisa esquecida na terra — Como um lápis numa península.
- Do lugar onde estou já fui embora.

Manoel de Barros

tudo o que ele escreve só não é melhor
poque eu não sou melhor
tudo o que ele escreve deveria ser decorado
entre lágrimas de felicidade
deveria ser meditado profundamente
por um longo tempo,
em êxtase
tudo o que ele escreve
é tudo o que não precisa ser dito
é só como eu gostaria de ver as coisas

cahê, sofrendo de alguma idolatria maníaca (justificada)

 

Aurora

A poesia não é voz - é uma inflexão.
Dizer, diz tudo a prosa. No verso
nada se acrescenta a nada, somente
um jeito impalpável dá figura
ao sonho de cada um, expectativa
das formas por achar. No verso nasce
à palavra uma verdade que não acha
entre os escombros da prosa o seu caminho.
E aos homens um sentido que não há
nos gestos nem nas coisas:
vôo sem pássaro dentro.

Adolfo Casais Monteiro
arrebentando a capacidade do cahê de reter tanta beleza em si
e levando-o a dividi-la com os outros

 

principalmente

sempre fui bem tratado como um príncipe
e fui me afeiçoando aos privilégios
aos florilégios e às vilegiaturas
que me couberam neste reino etéreo
e deletério, porque o esquecimento
é tão inevitável quanto a vida
e a morte é toda feita de mistério.
procuro ouvir a sorte nos meus búzios
como o Bilac ouvia suas estrelas,
coisa que nunca ouvi, mas compreendi
mesmo não tendo credo acreditável.
fui construindo assim meu edifício
sobre essa arquitetura de quimeras,
cujo arquiteto talvez fosse cego,
ou gênio, ou simplesmente ausente


Geraldo Carneiro



Monday, November 15, 2004

 

Tamara de Lempicka (1898-1980)



Adão e Eva, de 1932.

... deixado no Éden por Alê.



 

Amora em Cracatoa

A não perder:

Dea desembarca em Cracatoa. Clique
aqui para saber o que aconteceu. E clique aqui para o caso de o Vida em Cracatoa (Fragmento Fotográfico 5) já ter ido para o arquivo.

 

Vinicius, um tangerina

Por que Vinicius de Moraes era um tangerina incendiária? Veja só o que ele escreveu:

Ele era um menino
Valente e caprino
Um pequeno infante
Sadio e grimpante.
Anos tinha dez
E asas nos pés
Com chumbo e bodoque
Era plic e ploc
O olhar verde-gaio
Parecia um raio
Para tangerina
Pião ou menina
Seu corpo moreno
Vivia correndo
Pulava no escuro
Não importa que muro
Saltava de anjo
Melhor que marmanjo
E dava o mergulho
Sem fazer barulho
E em bola de meia
Jogando de meia -
Direita ou de ponta
Passava da conta
De tanto driblar
Amava era amar
Amava Leonor
Menina de cor
Amava as criadas
Varrendo as escadas
Amava as gurias
Da rua, vadias
Amava suas primas
Com beijo e rimas
Amava suas tias
De peles macias
Amava as artistas
Das cine-revistas
Amava a mulher
A mais não poder
Por isso fazia
Seu grão de poesia
E achava bonita
A palavra escrita
Por isso sofria
De melancolia
De sonhar o poeta
Que quem sabe um dia
Poderia ser.


... deixado depois de saltar de anjo melhor que marmanjo por Alê.

 

Sobre nada:

Por que o que nos mantém
São as asas.

Cahê


Sunday, November 14, 2004

 

Manuel Maria Barbosa Du Bocage (1765-1805)

Lá quando em mim perder a humanidade
Mais um daqueles, que não fazem falta,
Verbi-gratia — o teólogo, o peralta,
Algum duque, ou marquês, ou conde, ou frade:

Não quero funeral comunidade,
Que engrole "sub-venites" em voz alta;
Pingados gatarrões, gente de malta,
Eu também vos dispenso a caridade:

Mas quando ferrugenta enxada idosa
Sepulcro me cavar em ermo outeiro,
Lavre-me este epitáfio mão piedosa:

"Aqui dorme Bocage, o putanheiro;
Passou vida folgada, e milagrosa;
Comeu, bebeu, fodeu sem ter dinheiro".


... cavado em ermo outeiro com ferrugenta enxada idosa por Alê.

Saturday, November 13, 2004

 

"Dos males o menor...

Se te chamo de putinha
sou machista e indecorosa.
No entanto, se não chamo,
você não goza..."

Leila Míccolis

O Cahê achou lendo um blog chamado
(como resistir?): Obscenas senhoras...

 

Princípio (s)

Seja elegantemente depravada, sutilmente tarada, intensa, quente.

Seja independente. Uma pessoa, não uma parte.

Opte sempre pela felicidade.

Beije bem, trepe bem. Aprende-se. Dedique-se.

Me ame. (E seja amiga e cúmplice. Mesmo que não me ame.)

Nunca torne banal o que me é tão caro. Não repita milhões de vezes o que a ânsia de ouvir mais importa do que a segurança de saber.

Não seja idiota, não finja que é, não faça voz de criança para se mostrar dócil.

Não se aposse do que não pode ser propriedade. Pessoas, futuro, memórias, sentimentos, ventos, infinitos.

Não se agrida, com sacrifícios, trocas, dúvidas, ilusões ou mentiras (no que se vê, no que se é).

Não respeite regras impostas, adote suas próprias prescrições. Mesmo que se tornem nossas.

Cahê, decalogando aos quatro ventos.

Friday, November 12, 2004

 

Considerações sobre um furo

Ando lendo "Cracatoa simplesmente sumiu"
http://www.polzonoff.com.br/cracatoa/
e estou embasbacado com a literatura do colega bloggeiro!

Muito boa sua resolusão sobre body modification
e a convivência entre gerações:

"Um piercing genital pode custar entre R$ 100 e R$ 300. Mas ficar pelado na frente da mãe não tem preço."

cahê

 

entre zero e um

sentimentos
que espremidos entre
cabeça e corpo
que espremidos entre
terra e ar
entre
núcleo e vácuo
pulsam

centrar-se é percorrer distâncias
circulares
infinitas
ínfimas
e íntimas

cahê

 

QUE TUDO SE F...

– Que tudo se foda,
disse ela,
e se fodeu toda....

Paulo Leminski
curto, suscinto, direto, breve até
como sempre

cahê

 

Sem fantasia (trecho)

Chico Buarque

(...)
Eu quero te contar
Das chuvas que apanhei
Das noites que varei
No escuro a te buscar
Eu quero te mostrar
As marcas que ganhei
Nas lutas contra o rei
Nas discussões com Deus
E agora que cheguei
Eu quero a recompensa
Eu quero a prenda imensa
Dos carinhos teus

... deixado depois de uma luta contra o rei e antes de uma discussão com Deus por Alê.

Thursday, November 11, 2004

 

Gustav Klimt...

...era uma tangerina incendiária....



... pois gostava de mulheres em chamas.

... deixado sob uma saborosa cesta de maçãs por Alê.

 

Futuros amantes

Chico Buarque

Não se afobe, não
Que nada é pra já
O amor não tem pressa
Ele pode esperar
em silêncio
Num fundo de armário
Na posta-restante
Milênios, milênios
No ar

E quem sabe, então
O Rio será
Alguma cidade submersa
Os escafandristas virão
Explorar sua casa
Seu quarto, suas coisas
Sua alma, desvãos

Sábios em vão
Tentarão decifrar
O eco de antigas palavras
Fragmentos de cartas, poemas
Mentiras, retratos
Vestígios de estranha civilização

Não se afobe, não
Que nada é pra já
Amores serão sempre amáveis
Futuros amantes, quiçá
Se amarão sem saber
Com o amor que eu um dia
Deixei pra você


... escavado em um sítio arqueológico de outra civilização por Alê.

Wednesday, November 10, 2004

 

Mãos tão pequenas

nalgum lugar em que eu nunca estive, alegremente além
de qualquer experiência, teus olhos têm o seu silêncio:
no teu gesto mais frágil há coisas que me encerram,
ou que eu não ouso tocar porque estão demasiado perto

teu mais ligeiro olhar facilmente me descerra
embora eu tenha me fechado como dedos, nalgum lugar
me abres sempre pétala por pétala como a Primavera abre
(tocando sutilmente, misteriosamente)a sua primeira rosa

ou se quiseres me ver fechado,eu e
minha vida nos fecharemos belamente,de repente,
assim como o coração desta flor imagina
a neve cuidadosamente descendo em toda a parte;

nada que eu possa perceber neste universo iguala
o poder de tua imensa fragilidade:cuja textura
compele-me com a cor de seus continentes,
restituindo a morte e o sempre cada vez que respira

(não sei dizer o que há em ti que fecha
e abre; só uma parte de mim compreende que a
voz dos teus olhos é mais profunda que todas as rosas)
ninguém, nem mesmo a chuva, tem mãos tão pequenas

e. e. cummings, citado num filme do Woody allen,
lembrado sempre que tanta beleza se faz bem-vinda em palavras
cahê

 

Cântico dos cânticos (trecho)

(retirado do Cântico dos Cânticos, 22 º livro da Bíblia, escrito pelo Rei Salomão)

Quão belos são os teus pés
nas sandálias que trazes, ó filha de príncipe!
As colunas das tuas pernas são como anéis
trabalhados por mãos de artista.
O teu umbigo é uma taça arredondada,
que nunca está desprovida de vinho.

(...)

Quão formosa e encantadora és, meu amor, minhas delícias!
A tua figura é semelhante a uma palmeira. Eu disse.
Subirei à palmeira, e colherei os seus frutos.
Os teus seios serão, para mim, como cachos de uvas,
e o perfume da tua boca como o das maçãs.



Deixado marcado no livro com uma entrada velha de cinema para o filme Magnólia por Alê.

Tuesday, November 09, 2004

 

...

Tente imaginar ventos.
Agora pare num perfume
até que a boca se encha d’água
e o corpo mude o fluxo
até que teus próprios pêlos
afastem-se de ti
e tua sensibilidade,
torne o que te toca,
daquilo que te enleva.

agora desconheces palavras,
talvez compreendas

do Cahê, ainda em chamas...




 

Se eu tiver de ir por mar

Enfrentarei qualquer perigo. Clique aqui.

PS - Se o computador não tiver som, não tem tanta graça.

Brinquedo deixado espalhado sob a tangerineira por Alê.

 

Quelqu'Un M'A Dit

por Carla Bruni

On me dit que nos vies ne valent pas grand chose,
Elles passent en un instant comme fânent les roses.
On me dit que le temps qui glisse est un salaud que de nos chagrins
Il s'en fait des manteaux pourtant quelqu'un m'a dit...

Que tu m'aimais encore,
C'est quelqu'un qui m'a dit que tu m'aimais encore.
Serais ce possible alors?

On me dit que le destin se moque bien de nous
Qu'il ne nous donne rien et qu'il nous promet tout
Paraît qu'le bonheur est à portée de main,
Alors on tend la main et on se retrouve fou
Pourtant quelqu'un m'a dit ...

Que tu m'aimais encore,
C'est quelqu'un qui m'a dit que tu m'aimais encore.
Serais ce possible alors?

Mais qui est ce qui m'a dit que toujours tu m'aimais?
Je ne me souviens plus c'était tard dans la nuit,
J'entend encore la voix, mais je ne vois plus les traits
"Il vous aime, c'est secret, lui dites pas que j'vous l'ai dit"
Tu vois quelqu'un m'a dit...

Que tu m'aimais encore, me l'a t'on vraiment dit...
Que tu m'aimais encore, serait-ce possible alors ?

On me dit que nos vies ne valent pas grand chose,
Elles passent en un instant comme fânent les roses
On me dit que le temps qui glisse est un salaud
Que de nos tristesses il s'en fait des manteaux,
Pourtant quelqu'un m'a dit que...

Que tu m'aimais encore,
C'est quelqu'un qui m'a dit que tu m'aimais encore.
Serais ce possible alors?


deixado aqui por Alê.

Monday, November 08, 2004

 

O que é uma tangerina

Também chamada de mexerica, bergamota, mandarina e laranja-cravo, a tangerina é uma boa fonte de vitamina C, beta-caroteno e potássio. Contém também pectina, uma fibra solúvel que ajuda a controlar o colesterol sangüineo. Mas os óleos existentes na casca podem irritar a pele de algumas pessoas. De maneira incendiária, com direito a queimaduras de terceiro e outros graus mais avançados e íntimos.

 

primeiro post

"ah, meu irmão, não me deitei nesse chão de tangerinas incendiadas, nesse reino de drosófilas, não me entreguei feito menino na orgia de amorass assassinas?" Ana, João e Tami encontraram em Lavoura Arcaica de Raduan Nassar

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