Sunday, April 10, 2005

 

Abismos de mãos dadas e/ou Meus pés-cinzel

Saí de casa para encontrar
alguém por acaso.
Estava escuro (ocaso), quase preto.
Pisava perto, duro,
cada ponto, sem descaso nem hesitar.

No entanto, sempre pronto,
parto sem espanto (pedra)
mesmo expondo prato quebrando
em pranto.

E, num lapso de instante (tanto!)
pego o lápis de memória e escrevo
o que o ANTES escondeu num manto
em segredo.

Colapso (cola-psi) da história,
refaço, desconstruo o elo,
colo o que quero naquilo que cinzelo,
na escultura do DEPOIS na qual bastam dois
abismos em iminência...

Tomei gosto por criar coincidências...




Esculturado ao acaso por João Victor...

 

Des-ampulheta e/ou Relógio mole de Dalí e/ou Sempre agora a partir de então

Sem se dar conta ela contava
o tempo...
Brilhantes gotas vermelhas em suas coxas,
uma a cada (seu) momento
(o de dentro): ali seus segundos...

Mas no vidro simples dos seus olhos,
Ah! Quantas horas sem ponteiros!
No macio sorriso os dentes fortes...
Destruíram tantos relógios!

E agora, em cada canto conto a vida
sem me dar conta...
... em pequenas gotas vermelhas...


deixado gotejando por João Victor

Saturday, April 09, 2005

 

Contato invisível

Profundo sempre. O fôlego nescessário, prévio. Profundo como me toca, o ar entra e preenche até quase rasgar por não mais poder ser contido. E não sai explodindo, sai naturalmente, mais forte a princípio, depois mais cadenciado, só pelo impulso, respeitando a elasticidade das mucosas, a forma como elas relaxam sua distenção e depois se comprimem, só um pouco, concientemente, só pelo poder de interferir, mais uma vez no que por si, já é completo. Em um fôlego, em um só fôlego está tudo o que precisamos aprender, sempre lá, repetido a exaustão, todos os dias, todas as horas.

Friday, April 01, 2005

 

todas as teorias sobre inferno só falam de agora e hoje

No inferno não há papel. Ele só existe queimado ou em chamas. Escritores, acreditem, tem alguns por lá, sofrem. Crescem os tumores palavrais em seus cérebros e eles ficam a mercê de, no máximo, recita-los alto para ouvidos nenhuns. Imagino que no inferno, cada um com sua dor e sua lamentação, ninguém escuta ninguém. Isso mesmo, recita-los, é uma alternativa apenas para os mais despachados ou desesperados porque, senão esse o caso, nem isso. Para aqueles mais ciosos de suas obras, os que as guardam e releem e corrigem e mudam e editam e menhoram com o tempo, antes de mostra-las, pra esses o inferno é mais inferno...
Para os leitores a merda é, no meio de tanto chato reclamando, tentar achar e depois escutar um que fale algo no mínimo interessante.
Imagino até aquela nostalgia do terror de se ficar paralisado em frente ao papel branco...

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