Monday, November 22, 2004

 

Sonhos sonhos são

Engraçado que eu tenha escrito este texto, baseado em sonhos há cerca de dois anos:

Terceiro sonho
Deitado de lado em minha cama, olho para um céu azul. Aves dançam. Não há brisa, a cortina repousa. Sem intenção alguma de mexer-me, deixo-me ficar. Um fino lençol cobre meu corpo. É uma tarde quente. É incrível e banal a um só tempo que as montanhas ao longe cheguem até mim através da vidraça. Eu não as entendo e elas, as montanhas, tampouco entendem a mim. Mas não há problema nisso.

Isto, sem dúvida, é uma paisagem.

E, de repente, não é mais. Num instante (é um sonho) o que estava lá fora está aqui dentro deste pequeno quarto, desta pequena cidade, deste pequeno mundo. Tudo é muito pequeno, mas o infinitamente pequeno comporta o infinitamente grande, sem dúvida. Porque o que penetrou pelas paredes brancas, não foi a paisagem. Aquilo que agora contemplo, como mergulhasse em um poço de águas cálidas, é seu olhar e, para além dele, seu corpo a se espreguiçar longamente, como quem reluta a levantar depois de um sonho bom que ainda perdura na vigília.

Em seguida, me aninho e volto a dormir profundamente, invadido por essa sensação quente.

Primeiro sonho
No meu sonho você entrava a flutuar pela janela e beijava minha boca, ardente, mas sem que eu acordasse. Era dia e uma brisa fazia com que a cortina oscilasse suavemente. O sol atravessava o tecido e dava ao ambiente um tom alaranjado. E, sim, sem que eu acordasse, você me beijava a boca. E era como antes. Como o primeiro beijo, antes da primeira palavra, antes mesmo do primeiro encontro. O primeiro, idealizado, em que os lábios se roçam, mas não dizem nada, como o calor antes da faísca, como a faísca antes da brasa, como a brasa antes da labareda.

E então seu corpo pousava ao lado do meu e seus olhos me observavam enquanto eu ressonava levemente durante a tarde quente, durante dias, durante anos, durante séculos. E no sonho (dentro do sonho), enquanto eu dormia, não sonhava com você, mas com a primeira bicicleta, uma pipa de oito lados e plástico transparente que desaparecia magicamente no céu feita por meu pai, com meu avô a caminhar a meu lado, com os olhos verdes da primeira namorada. No meu sonho eu tentava acordar para lhe dizer algo, algo importante, muito importante, ou simplesmente para tocar seus cabelos.Eu acordava e você não estava mais lá.

Segundo sonho
E, neste, ambos, de lugares diferentes, víamos a lua. Era torturante saber que víamos o mesmo astro sem, no entanto, nos vermos ou nos tocarmos. Ao mesmo tempo tornava-se confortável o sentimento de que ao menos um elemento da paisagem. A lua, cheia, pulsava no verão como as contrações de um corpo lascivo. Porém, minha janela estava vazia de você, um vazio da silhueta nua contra o céu escuro e estrelado. Neste momento, um dragão chinês passa pelo quarto através da vidraça em direção à porta da sala.

Pois era um sonho.


... colado, numa bravata e numa ágil manobra, junto com um outro papel escrito "chute-me" nas costas de um feroz dragão chinês por Alê...

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