Monday, November 29, 2004

 

Barrismo

"Por viver muitos anos dentro do mato moda ave
O menino pegou um olhar de pássaro –
Contraiu visão fontana.
Por forma que ele enxergava as coisas por igual
como os pássaros enxergam.
As coisas todas inominadas.
Água não era ainda a palavra água.
Pedra não era ainda a palavra pedra.
E tal. As palavras eram livres de gramáticas
e podiam ficar em qualquer posição.
Por forma que o menino podia inaugurar.
Podia dar às pedras costumes de flor.
Podia dar ao canto formato de sol.
E, se quisesse caber em uma abelha,
era só abrir a palavra abelha e entrar dentro dela.
Como se fosse infância da língua.”

Manoel de Barros


Posto que então fundarei uma nova religião,
o Barrismo, como se não bastassem as tantas
que já nos aporrinham. Nela o nome confundira
profeta e apóstolo e todas as poesias de Manoel
serão sutras enquanto as de Carlos, upanishads.
será mais um método de redenção pela literatura
a princípio, ganhando vulto de coisa sagrada com
a distância, em tempo e espaço, das origens.
Nasce com a heresia de me buscar no que é belo.
Termina, daqui a anos, nas mãos de rebeldes, que
lutaram para derrubarem poderosos, que corromperam
o sentido original das palavras para ficarem no poder.
Eu estou com os que são diferentes. Cahê.

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