Saturday, March 19, 2005

 

Cortes

Eu cortei meu cabelo com uma faca por que, se eu não precisava me machucar para mostrar minha dor, eu tinha pelo menos que demonstrar que eu estava fora. Não estava, não era normal. Não ia participar da brincadeira, pedi tempo, criei uma especie de distância. Quando peguei a faca nem sabia o que ia fazer, fiquei olhando pra ela, pensando. Facas pra mim são o abismo portátil. Belas, suaves e violentas a um só tempo. Inertes, frias, a primeira máquina, a chave de saída. Dor. Um símbolo de desespero e gênio. O vento do abismo está na proximidade da lâmina.
Eu brinco com o fio cortante. Com respeito. Eu testo-o contra minha pele, exerço pressão. Gosto de olhar e ver exatamente onde ele divide o ar. Gosto de movimenta-lo, de ter a faca como extenção do braço, gosto da ferramenta.
Cortei o cabelo, ficou uma merda. Depois eu acerto, quando passar. Depois eu lavo a faca, e a coloco, já muito longe de suas ancestrais selvagens, domada, na gaveta da cozinha. Outro dia, quem sabe, eu a levo pra passear de novo.

Comments:
eu também tenho uns textos malucos..onde disserto algo que só eu memo a vejo
Estou com muitasssssss saudade!!!!!!! agora vou entrar sempre no seu blog e ler suas publicações..trate de atualiza-los
beijos joana Lorrenne
 
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