Tuesday, June 05, 2007

 

Tangerina em cena...

"Havia no corredor um prato de leite pro gato.
- Os pratos foram feitos pra gente se sentar - disse Simone.
- Quer apostar que eu me sento no prato?"

G. Bataille (História do Olho)

Wednesday, February 21, 2007

 

Sinfonia nº 6 para quadris, sementes e asas e/ou Da sabedoria de raízes e/ou Do transbordo e/ou Da queda de um anjo

Há tempos deixei de lado a gravidade...
piso a terra por puro gosto,
por saudade do meu primeiro instante
fora, exposto...

Lembro de minha mãe, de seu rosto,
contando que, dentro, eu era anjo
e caí...
(sabor de leite e colostro)

Tomei gosto por pesar, por descer...
todo anjo deveria aproveitar
cada oportunidade de cair, nascer...
J’essayerai de te donner...

Há tempos muita leveza não me apetece
e só creio no vôo partido da terra,
que a ela retorna e desce,
se planta e se cresce...

Não um pousar de sementes duvidosas nos artelhos,
frutas em mãos verdes, uvas rasas nos joelhos...
mas algo além do ápice, de cereal, de cadarços vermelhos...

Lembro de minha avó, de seus braços estreitos,
ensinando a regar...
dizia que olores, suores, azedumes de flores
é o que as águas vinham inspirar
mas de modo algum devia haver espera...
e se virava de costas...
preferia a presença à resposta...

Tomei gosto por estar e desaparecer...
J’essayerai de te donner...

Sempre quis ser algo de cheiro, nunca de eterno...
que deixa um rasgo, um risco, granizo,
resquício de raiz no ar, primórdio de inverno,
algo apesar...


Acordo agora com lembranças tuas...
me contava que raízes e perfumes
haviam feito um acordo:
o horizonte é onde continua,
o além é o transbordo...

Tomei gosto pelo ultrapassar, pelo perecer...
... la distance que tu veux...

Levanto-me e olho pro céu
aguçando distância nas vontades
mas o papel de suas asas
não suporta minhas extremidades,
o peso de meus poros, minhas casas e cidades...

Faça o favor então de me emprestar
teus olhos, lábios, teu cheiro,
que assim meu contorno eu beiro
até me transbordar,
pois teus quadris me germinam
e planto suas asas na terra
pr’uma árvore de ar...

Tomei gosto por sentir-me em ti crescer...
... la distance que tu veux...

Sei que teus pés são saudosos de chão
e mesmo que hoje, ao descer um pouco,
diga “não” já ao primeiro passo,
tenho paciência nas raízes e, por isso,
de quem voa, me despeço não com tempo
mas com espaço: - Até perto!

E, se no alto do vôo te faltar ar,
é certo, não te faltará, na terra, alento...
me viro de costas e sento...

Tomei gosto pela queda, pelo umedecer...
J’essayerai de te donner la distance que tu veux...




deixado num ninho no alto de uma árvore... por João Victor...

Monday, November 13, 2006

 

Sinfonia nº 5 bordada para parênteses, tendões e olhos abertos e/ou Poema insone

te ce()do
(cada um de meus)
te(r) sido(s)...

te sa()do:
(cada um de seus)
te ci do(s)
(re)tesado(s)...

(é t)arde:
(anoi)teço,
fecho parênteses
(a cor)dado...

teço-te a-té cedo,
desço-te dedo-a-dedo,
parêntese aberto:
verbo em jorro,
(trans)bordado (...




por João Victor e ponto... e ponto... e ponto...

Friday, November 03, 2006

 

... três pontos e/ou vértices ...

Quanto ao número de lados: equilátero, isósceles e escaleno.
quanto às medidas dos ângulos: acutângulo, obtusângulo e retângulo.

por João Victor, descobrindo que reticências são triângulos vistos... de um outro ângulo... ... ...

Friday, October 20, 2006

 

Silêncio

do Lat. silentiu

s. m.,
estado de quem se abstém de fal... ...

taciturnid... ...

privação voluntária do fal... ...

abstenção de publicar qualquer notícia ou fat... ...

ausência de ruí.. ...

interrupção de correspondênc... ...

omissão de explicaç~... ...

sosseg... ...

segred... ...

... ... ...




por João Vict...

Monday, August 28, 2006

 

Quase-poema e/ou Quase uma sombra e/ou Mais um breve vislumbre do quase

e não podia esperar
tinha que acabar no antes
tinha que acabar nu
tinha que


postado por João Victor... mãos, quase dedos...

Thursday, August 03, 2006

 

Quero saber

Quero saber se você vem comigo
a não andar e não falar,
quero saber se ao fim alcançaremos
a incomunicação; por fim
ir com alguém a ver o ar puro,
a luz listrada do mar de cada dia
ou um objeto terrestre
e não ter nada que trocar
por fim, não introduzir mercadorias
como o faziam os colonizadores
trocando baralhinhos por silêncio.
Pago eu aqui por teu silêncio.
De acordo, eu te dou o meu
com uma condição: não nos compreender

Pablo Neruda


postado por João Victor... para alguém com quem aprendi a andar de mãos dadas... caladas...

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